Para garantir a sobrevivência no
mercado, as organizações precisam investir em novas tecnologias ou perdem
espaço para a concorrência e isso, na prática, torna-se um caminho que pode
levar ao fracasso do negócio. Contudo, de nada adianta ter acesso a
equipamentos de “ponta” se a empresa não contar com profissionais que dêem o
melhor de si e que estejam alocados em funções onde possam apresentar uma
performance satisfatória.
Diante da necessidade de colocar “as
pessoas certas para os locais certos” e, consequentemente, atender às
necessidades das empresas, a área de Recursos Humanos recorre a ferramentas que
revelem determinadas competências, que trabalhem situações vivenciadas no
dia-a-dia das organizações e podem prejudicar o desempenho dos colaboradores, a
exemplo dos conflitos entre equipes. Um recurso muito utilizado no meio
organizacional são as chamadas dinâmicas de grupo que possuem um “mundo amplo”
e do qual fazem parte os jogos, as simulações, as vivências propriamente ditas
e os estudos de caso, os famosos cases.
De acordo com Izabel Failde,
consultora em desenvolvimento pessoal e organizacional, e autora do “Manual do
Facilitador para Dinâmicas de Grupo”, lançado pela Papirus Editora, as
dinâmicas são instrumentos de ampla aplicação, pois podem ser adaptados aos mais
diversos públicos, objetivos, locais e recursos. No entanto, os subsistemas de
seleção e treinamento ainda são os "campeões" de utilização dessas
valiosas ferramentas.
“Em seleção, por exemplo, os cases
- também chamados de provas situacionais - têm sido amplamente utilizados. Em
treinamento, além dos programas comportamentais que já usam o instrumento, os
que envolvem conhecimentos técnicos também têm feito uso das técnicas. Isso é
excelente, pois torna os eventos mais envolventes, ágeis, reflexivos, lúdicos.
E quem disso que treinamento técnico tem que ser chato?”, questiona Izabel
Failde.
A utilização das dinâmicas de grupo
no ambiente corporativo é ampla, mas existem algumas restrições ligadas,
principalmente, ao público-alvo. Antes de tudo, é preciso que as pessoas
participantes da dinâmica sejam respeitadas, uma vez que alguns profissionais
podem se sentir expostos ou até mesmo constrangidos.
Um exemplo comum acontece com os
gestores de primeiro nível - diretores, superintendentes, gerentes
"seniores", pois muitos desses profissionais sentem-se ameaçados
pelos próprios colegas de trabalho e pela alta competitividade evidenciada no
meio em que atuam. Alguns desses gestores, comenta Izabel Failde, têm
verdadeiro pavor de participarem de atividades que envolvam dinâmicas de grupo.
“Por isso, as dinâmicas devem ser introduzidas paulatinamente, sempre que
houver uma possibilidade: reuniões semanais, café com o presidente, após um
almoço de negócios, em momentos de descontração e integração. Passo a passo os
gestores tendem a aceitar e reconhecer a importância das técnicas”, diz a
consultora.
Quando questionada se a área de
T&D tem aproveitado o potencial máximo das dinâmicas de grupo, Izabel
Failde cita que é possível ver de tudo no mercado - desde distorções na escolha
das técnicas e aplicação, falhas no processamento da aprendizagem até à
otimização máxima de cada atividade. As disparidades envolvem, principalmente,
despreparo do facilitador, pois não basta apenas conhecer a técnica, é preciso
que ela seja o melhor instrumento para uma determinada atividade,
considerando-se o público-alvo, o local, o tempo e os recursos instrucionais
desenvolvidos adequadamente. Essas análises ajudam o profissional a se sentir
seguro na condução da atividade. Além disso, o próprio facilitador deve ser
assertivo, empático, saber ouvir, conhecer e respeitar o ritmo dos
participantes, conhecer profundamente a organização, para falar o mínimo.
Vale ressaltar que todas as áreas
organizacionais podem fazer uso dessas técnicas. Há atividades para os mais
diferentes momentos e objetivos como, por exemplo, integração, interação,
energização, solução de problemas, planejamento, foco em resultados,
relacionamento interpessoal, entre outros. Os gestores que não tiverem preparo
para conduzir as atividades devem recorrer aos profissionais de RH. Mesmo os
chamados "vitalizadores", exercícios que ajudam a despertar, a
energizar, a animar os participantes, devem ser escolhidos criteriosamente e
aplicados adequadamente.
“O pior que pode ser dito sobre as
dinâmicas de grupo é que essas técnicas são brincadeiras ou oba-oba. São
instrumentos poderosos e devem ser preservados. Um deslize pode inviabilizar a
utilização das técnicas por longos períodos dentro das organizações”, alerta a
consultora, ao lembrar que como a Gestão de Pessoas se faz com relacionamentos
interpessoais, empatia, compreensão mútua, competências complementares,
comprometimento, foco em resultados, existem técnicas específicas para cada um
desses objetivos. Por sua plasticidade a dinâmica de grupo tona-se um excelente
instrumento de sensibilização e conscientização quando o objetivo de sua
aplicação está voltado para gerir talentos humanos.
É interessante lembrar que apesar de
oferecer um amplo leque de trabalho no campo organizacional, a aplicação
periódica dessas técnicas não é tão simples. Mesmo que a utilização das
dinâmicas seja diária, as mudanças observadas serão pequenas ou até nulas,
dependendo do público-alvo. As transformações só se estabelecem de dentro para fora
do indivíduo, quando ele realmente quer, vê motivo e pode mudar. Os novos
comportamentos e as atitudes ocorrem apenas quando a pessoa escolhe esse
caminho.
Uso inadequado – As
aplicações e as escolhas inadequadas das dinâmicas podem trazer consequências
desastrosas. Do ponto de vista do indivíduo, por exemplo, aparecem a
superexposição, a diminuição do autoconceito e da auto estima, sentimentos de
rejeição e inadequação. Em relação ao ângulo do instrumento, o pior que pode
acontecer é a desqualificação das técnicas.
“No Orkut e outros sites de
grupos existem comunidades chamadas ‘Odeio Dinâmicas’. Os relatos são terríveis
e, ao mesmo tempo, constituem-se ótimas fontes de aprendizado para o
facilitador. Aparecem desde resistência dos participantes - porque alguém disse
que dinâmica de grupo era uma roubada - até detalhes da condução e atividades
selecionadas que dão frio na barriga, para dizer pouco. Qual objetivo se quer
alcançar ao solicitar que candidatos ‘andem de quatro’ ao redor de uma sala?
Nem é preciso conhecer o contexto para saber que a escolha da atividade é mais
do que inadequada”, alerta Izabel Failde.
Para a consultora, as técnicas só se
tornam "poderosas" quando são corretamente selecionadas, dentro do
contexto organizacional, dos objetivos e das necessidades. Toda atividade
precisa ter motivos para ser aplicada. Esses objetivos, por sua vez, são
provenientes de ações pró-ativas ou reativas, advindas de um diagnóstico
individual, setorial, grupal ou organizacional. Aplicar uma determinada atividade
simplesmente porque está na moda, é fácil, engraçada ou legal, não tem o menor
propósito técnico.
Além disso, o ideal é que toda
dinâmica de grupo seja aplicada inicialmente em um "grupo piloto",
também chamado de "grupo alfa", "laboratório", "pré-teste".
Essa prática possibilita, além da segurança do facilitador na condução da
atividade, observação das reações dos participantes, utilização de algumas
variações da atividade, verificação que identificam se os recursos
instrucionais - textos, planilhas - foram adequadamente elaborados. Em suma,
deve-se conhecer o maior número de variáveis e hipóteses possível antes da
aplicação de qualquer atividade, para alcançar os objetivos propostos.
Por fim, Izabel Failde dá alguns
conselhos para o profissional de RH que vai aplicar dinâmicas de grupo pela
primeira vez. “Prepare-se. Leia muito, experimente, tente, treine, reveja,
altere, conheça o alcance e os limites da técnica. Seja seguro, assertivo,
empático, dinâmico, auto motivado, aberto ao novo, flexível, adaptável,
perseverante, próximo. Conheça tudo o que puder sobre sua empresa como, por
exemplo, negócio, produtos, mercado, colaboradores, gestores, missão, visão,
valores, estratégias”, resume.